Monday, April 28, 2008
Revista LER
A revista LER, fundada em 1987, regressa às bancas, sob a direcção de Francisco José Viegas. Totalmente renovada, apresenta uma nova imagem gráfica. De carácter geral, no âmbito da língua portuguesa, este número dispõe de um grande número de colaboradores e colunistas que se pronunciam sobre livros e sobre a vida que anda neles.
Sunday, April 20, 2008
Língua Bífida
Já que andamos numa onda de Acordo Ortográfico, deixo-vos esta crónica de José Diogo Quintela:
Quando aqueles empresários portugueses foram mortos em Fortaleza, apanharam um dos brasileiros que agiram a soldo do mandante, o famigerado Luís Militão. Ainda me lembro do rapaz negar ter conhecido os empresários, dizendo "Pô! Mas eu nem sei falar português!" Talvez com o novo acordo, passe a saber.
Não sei se sou contra ou a favor do Acordo Ortográfico. Sei só que, se avançar, exijo que de pronto disponibilizem o spell check para o Windows devidamente actualizado. É-me indiferente se muda a língua ou o que é. Assim como assim, já dou imensos erros. Não domino a versão antiga, também não vou dominar a moderna. Quanto muito, até fico com uma boa desculpa para as minhas calinadas. "Ai, não é "improvisas-te"? É "improvisaste"? Que cabeça a minha, ainda não me habituei ao novo acordo." Nunca mais vou precisar perder tempo a decidir se é "à" ou "há". Antes, se saía cara era com "h", se saía coroa, era sem. Agora é pôr o que ficar melhor na frase e, se estiver errado, culpar o acordo.
Ao lermos ementas de restaurantes, panfletos de hipermercados ou outdoors de publicidade, deparamo-nos com uma data de erros que vão continuar a ser dados. Para grande satisfação popular. Quem não gosta de rir à socapa de uma "assorda de marisco"? Claro que, se estiver estragada, quem ri por último é o analfabeto do cozinheiro. Por alguma razão cada vez há mais pratos com nomes estrangeiros. Há mais confiança para escrever "risotto" do que "arroz malandro".
Este acordo vai ter tanto impacto no lúmpen falante como um aumento no IVA dos iates de 27 metros na vida de, bom, basicamente todos os portugueses sem dinheiro para iates desses. E na dos portugueses que, tendo dinheiro para isso, enjoam no mar.
O lúmpen falante está-se nas tintas se em vez de "hão-de" se vai escrever "hão de", porque vai continuar a dizer "hádem". E se lhe falarem no desaparecimento do hífen, é possível que levem uma murraça. Eu faço parte do lúmpen falante, mas disfarço mais ou menos, porque tenho um bom spell check no computador e os meus textos ainda passam pelo crivo salvador dos revisores. Em termos linguísticos, sou um arrivista. Quero parecer mais do que sou. Uso o dicionário de sinónimos com destreza e misturo-me com os fluentes na língua que, por momentos, me tomam por um deles. Só que depois escrevo qualquer coisa à mão e, sem o protector risquinho encarnado (que ainda agora me chamou a atenção para botar outro "r" em "arivista") a corrigir-me, sou desmascarado. O risquinho encarnado do Word é aquele amigo que nos diz para não usarmos meias brancas com fato escuro num casamento.
De maneira que não estou muito preocupado com isto do acordo. Hei-de continuar a intrujar quem me lê. Para, daqui a alguns anos, poder ouvir dizer "aquele Zé Diogo sempre foi um impostor. Os primeiros fatos que aldrabou ainda eram com "c"".
Não sei se sou contra ou a favor do Acordo Ortográfico. Sei só que, se avançar, exijo que de pronto disponibilizem o spell check para o Windows devidamente actualizado. É-me indiferente se muda a língua ou o que é. Assim como assim, já dou imensos erros. Não domino a versão antiga, também não vou dominar a moderna. Quanto muito, até fico com uma boa desculpa para as minhas calinadas. "Ai, não é "improvisas-te"? É "improvisaste"? Que cabeça a minha, ainda não me habituei ao novo acordo." Nunca mais vou precisar perder tempo a decidir se é "à" ou "há". Antes, se saía cara era com "h", se saía coroa, era sem. Agora é pôr o que ficar melhor na frase e, se estiver errado, culpar o acordo.
Ao lermos ementas de restaurantes, panfletos de hipermercados ou outdoors de publicidade, deparamo-nos com uma data de erros que vão continuar a ser dados. Para grande satisfação popular. Quem não gosta de rir à socapa de uma "assorda de marisco"? Claro que, se estiver estragada, quem ri por último é o analfabeto do cozinheiro. Por alguma razão cada vez há mais pratos com nomes estrangeiros. Há mais confiança para escrever "risotto" do que "arroz malandro".
Este acordo vai ter tanto impacto no lúmpen falante como um aumento no IVA dos iates de 27 metros na vida de, bom, basicamente todos os portugueses sem dinheiro para iates desses. E na dos portugueses que, tendo dinheiro para isso, enjoam no mar.
O lúmpen falante está-se nas tintas se em vez de "hão-de" se vai escrever "hão de", porque vai continuar a dizer "hádem". E se lhe falarem no desaparecimento do hífen, é possível que levem uma murraça. Eu faço parte do lúmpen falante, mas disfarço mais ou menos, porque tenho um bom spell check no computador e os meus textos ainda passam pelo crivo salvador dos revisores. Em termos linguísticos, sou um arrivista. Quero parecer mais do que sou. Uso o dicionário de sinónimos com destreza e misturo-me com os fluentes na língua que, por momentos, me tomam por um deles. Só que depois escrevo qualquer coisa à mão e, sem o protector risquinho encarnado (que ainda agora me chamou a atenção para botar outro "r" em "arivista") a corrigir-me, sou desmascarado. O risquinho encarnado do Word é aquele amigo que nos diz para não usarmos meias brancas com fato escuro num casamento.
De maneira que não estou muito preocupado com isto do acordo. Hei-de continuar a intrujar quem me lê. Para, daqui a alguns anos, poder ouvir dizer "aquele Zé Diogo sempre foi um impostor. Os primeiros fatos que aldrabou ainda eram com "c"".
in P2, Público (20 de Abril de 2008)
ainda a final do campeonato
Se há coisas, que me ficaram atravessadas na garganta, foram os erros que cometi no ditado. Assim, em vez de a-propósito escrevi apropósito, em vez de tonitruantes, tronitroantes (este imperdoável). Em vez de doesto escrevi doexto (foi pronunciado como sexto e não como cesto), o termo esfuziava estava completamente convencido que se escrevia com a letra s. E por último o grugrulejar, que uma vez que a Bárbara já tinha dito “simbilinamente” e “superflamente”, pensei que ela queria dizer gorgolejar.
Já que este ano apareceram os autores a lerem para a televisão, também não era necessário que fosse a Bárbara a ler o ditado da parte da manhã. É que ela lê mesmo mal…
A propósito de grugrulejar, um poema das vozes dos animais, sem a voz do peru:
Palram pega e papagaio
E cacareja a galinha,
Os ternos pombos arrulham,
Geme a rola inocentinha.
Muge a vaca, berra o touro
Grasna a rã, ruge o leão,
O gato mia, uiva o lobo
Também uiva e ladra o cão.
Relincha o nobre cavalo
Os elefantes dão urros,
A tímida ovelha bala,
Zurrar é próprio dos burros.
Regouga a sagaz raposa,
Brutinho muito matreiro;
Nos ramos cantam as aves;
Mas pia o mocho agoureiro.
Sabem as aves ligeiras
O canto seu variar:
Fazem gorjeios às vezes,
Às vezes põem-se a chilrar.
O pardal, daninho aos campos,
Não aprendeu a cantar;
Como os ratos e as doninhas,
Apenas sabe chiar.
O negro corvo crocita,
Zune o mosquito enfadonho,
A serpente no deserto
Solta assobio medonho.
Chia a lebre, grasna o pato,
Ouvem-se os porcos grunhir,
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.
Bramam os tigres, as onças,
Pia, pia o pintainho,
Cucurica e canta o galo,
Late e gane o cachorrinho.
A vitelinha dá berros,
O cordeirinho balidos,
O macaquinho dá guinchos,
A criancinha vagidos.
A fala foi dada ao homem,
Rei dos outros animais:
Nos versos lidos acima
Se encontram em pobre rima
As vozes dos principais
Pedro Dinis
Já que este ano apareceram os autores a lerem para a televisão, também não era necessário que fosse a Bárbara a ler o ditado da parte da manhã. É que ela lê mesmo mal…
A propósito de grugrulejar, um poema das vozes dos animais, sem a voz do peru:
Palram pega e papagaio
E cacareja a galinha,
Os ternos pombos arrulham,
Geme a rola inocentinha.
Muge a vaca, berra o touro
Grasna a rã, ruge o leão,
O gato mia, uiva o lobo
Também uiva e ladra o cão.
Relincha o nobre cavalo
Os elefantes dão urros,
A tímida ovelha bala,
Zurrar é próprio dos burros.
Regouga a sagaz raposa,
Brutinho muito matreiro;
Nos ramos cantam as aves;
Mas pia o mocho agoureiro.
Sabem as aves ligeiras
O canto seu variar:
Fazem gorjeios às vezes,
Às vezes põem-se a chilrar.
O pardal, daninho aos campos,
Não aprendeu a cantar;
Como os ratos e as doninhas,
Apenas sabe chiar.
O negro corvo crocita,
Zune o mosquito enfadonho,
A serpente no deserto
Solta assobio medonho.
Chia a lebre, grasna o pato,
Ouvem-se os porcos grunhir,
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.
Bramam os tigres, as onças,
Pia, pia o pintainho,
Cucurica e canta o galo,
Late e gane o cachorrinho.
A vitelinha dá berros,
O cordeirinho balidos,
O macaquinho dá guinchos,
A criancinha vagidos.
A fala foi dada ao homem,
Rei dos outros animais:
Nos versos lidos acima
Se encontram em pobre rima
As vozes dos principais
Pedro Dinis
Saturday, April 19, 2008
De novo o Campeonato ...
Aquando da Grande Final do Campeonato da Língua Portuguesa 2008, um grupo de concorrentes entregou a Francisco Pinto Balsemão uma carta de protesto e um abaixo-assinado, como tentativa de chamar a atenção do patrão do Grupo Impresa para as falhas cometidas pela CTC (Comissão Técnico-Científica) na elaboração e correcção das provas de qualificação.
Ao que parece, Balsemão leu a carta e desvalorizou as críticas dos concorrentes: "É uma história que já não é nova. Não vamos agora por causa de alguns protestos, vindos quase sempre das mesmas pessoas, substituir esta Comissão, na qual temos confiança". No entanto, Balsemão refere que analisará melhor a situação, para saber se os concorrentes têm razão no que dizem.
Ao que parece, Balsemão leu a carta e desvalorizou as críticas dos concorrentes: "É uma história que já não é nova. Não vamos agora por causa de alguns protestos, vindos quase sempre das mesmas pessoas, substituir esta Comissão, na qual temos confiança". No entanto, Balsemão refere que analisará melhor a situação, para saber se os concorrentes têm razão no que dizem.
Se quiser ler o artigo do Correio da Manhã, clique aqui.
onomatopeias
Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue... Pingue... Pingue...
Vu... Vu...Vu...
Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue... Pingue... Pingue...
Vu... Vu...Vu...
Ó vento que vais,
Vai devagarinho.
Ó chuva que cais,
Mas cai de mansinho.
Pingue... Pingue...
Vu... Vu…
Muito de mansinho
Em meu coração
Já não tenho lenha
Nem tenho carvão...
Pingue... Pingue...
Vu... Vu…
Que canto tão frio,
Que canto tão terno,
O canto da água,
O canto do Inverno...
Pingue...
Que triste lamento,
Embora tão terno,
O canto do vento
O canto do Inverno...
Vu...
E os pássaros cantam
E as nuvens levantam.
Matilde Rosa Araújo, in O Livro da Tila
Vento, aonde vais?
Pingue... Pingue... Pingue...
Vu... Vu...Vu...
Chuva, porque cais?
Vento, aonde vais?
Pingue... Pingue... Pingue...
Vu... Vu...Vu...
Ó vento que vais,
Vai devagarinho.
Ó chuva que cais,
Mas cai de mansinho.
Pingue... Pingue...
Vu... Vu…
Muito de mansinho
Em meu coração
Já não tenho lenha
Nem tenho carvão...
Pingue... Pingue...
Vu... Vu…
Que canto tão frio,
Que canto tão terno,
O canto da água,
O canto do Inverno...
Pingue...
Que triste lamento,
Embora tão terno,
O canto do vento
O canto do Inverno...
Vu...
E os pássaros cantam
E as nuvens levantam.
Matilde Rosa Araújo, in O Livro da Tila
Acordo ortográfico ou talvez não?
Agora que somos de novo confrontados com a questão do acordo ortográfico, relembro o " Poema de Helena Lanari" escrito por Sophia de Mello Breyner Andresen:
Gosto de ouvir o português do Brasil
Onde as palavras recuperam sua substância total
Concretas como frutos nítidas como pássaros
Gosto de ouvir a palavra com as suas sílabas todas
Sem perder sequer um quinto da vogal
Quando Helena Lanari dizia o "coqueiro"
O coqueiro ficava muito mais vegetal.
_______
Não será a variedade linguística que torna, a língua de todos nós, mais rica e apaixonante? Como eu compreendo Sophia
Gosto de ouvir o português do Brasil
Onde as palavras recuperam sua substância total
Concretas como frutos nítidas como pássaros
Gosto de ouvir a palavra com as suas sílabas todas
Sem perder sequer um quinto da vogal
Quando Helena Lanari dizia o "coqueiro"
O coqueiro ficava muito mais vegetal.
_______
Não será a variedade linguística que torna, a língua de todos nós, mais rica e apaixonante? Como eu compreendo Sophia
Confiança
O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...
Miguel Torga
FIO DE SANGUE
Deixem-me só como estou:
rodeado de mim, cheio de mim
agarrado a mim
(desesperadamente agarrado a mim)
os dedos cravados numa alma nua
(angustiadamente nua)
e um fio de sangue a escorrer
invisível, imperceptível
terrível
como a sensação brusca e forte
de lançar os braços à lua
e agarrar, por engano, a morte.
Estou cheio, senhores, estou cheio
deste pseudo-amor do mundo
desta ternura-não de tudo
deste tédio-mais-que-tédio de sombras iluminadas
a fingir pessoas em carne e osso
de mãos estendidas e coração aberto.
Não, não posso!
É tudo demasiadamente certo
para que ame o nojo em que me roço.
Ah, desesperada solidão
de querer o mundo todo nos braços
e sentir o coração
em pedaços!
Abraçá-lo! Abraçá-lo!
E ter na boca um travo negro
de despeito
e ter nos olhos um brilho doce
de humanidade
e ter a alma nua, a alma nua
(angustiadamente nua)
e um fio de sangue a escorrer
da cor da vida.
É por isso que eu quero estar só.
Pois, é por isso!
É por isso que eu quero estar só
agarrado às traves da minha angústia
que é a angústia de todos nós
do tamanho desta noite intemporal.
Não, que ninguém me diga nada
absolutamente nada!
O tempo há-de passar
como passam as rosas e os ciprestes.
E nós havemos todos de acordar
talvez de mãos unidas e alma descarnada
a sorrir às pedras.
Mas não me digam nada!
* * *
Há do lado de lá da vida
um caminho verde e virgem
e uma marcha de silêncio perde-se
para além das nuvens.
M. Vaz Sousa
P.S. - Creio que é interessante referir que este poema foi escrito no já longínquo ano de 1963
e que foi seleccionada para abrir os meus "posts" pela referência aos CIPRESTES.
rodeado de mim, cheio de mim
agarrado a mim
(desesperadamente agarrado a mim)
os dedos cravados numa alma nua
(angustiadamente nua)
e um fio de sangue a escorrer
invisível, imperceptível
terrível
como a sensação brusca e forte
de lançar os braços à lua
e agarrar, por engano, a morte.
Estou cheio, senhores, estou cheio
deste pseudo-amor do mundo
desta ternura-não de tudo
deste tédio-mais-que-tédio de sombras iluminadas
a fingir pessoas em carne e osso
de mãos estendidas e coração aberto.
Não, não posso!
É tudo demasiadamente certo
para que ame o nojo em que me roço.
Ah, desesperada solidão
de querer o mundo todo nos braços
e sentir o coração
em pedaços!
Abraçá-lo! Abraçá-lo!
E ter na boca um travo negro
de despeito
e ter nos olhos um brilho doce
de humanidade
e ter a alma nua, a alma nua
(angustiadamente nua)
e um fio de sangue a escorrer
da cor da vida.
É por isso que eu quero estar só.
Pois, é por isso!
É por isso que eu quero estar só
agarrado às traves da minha angústia
que é a angústia de todos nós
do tamanho desta noite intemporal.
Não, que ninguém me diga nada
absolutamente nada!
O tempo há-de passar
como passam as rosas e os ciprestes.
E nós havemos todos de acordar
talvez de mãos unidas e alma descarnada
a sorrir às pedras.
Mas não me digam nada!
* * *
Há do lado de lá da vida
um caminho verde e virgem
e uma marcha de silêncio perde-se
para além das nuvens.
M. Vaz Sousa
P.S. - Creio que é interessante referir que este poema foi escrito no já longínquo ano de 1963
e que foi seleccionada para abrir os meus "posts" pela referência aos CIPRESTES.
Comboio Nocturno para Lisboa
OBRIGATÓRIO LER
A história começa numa manhã chuvosa, uma mulher prepara-se para saltar de uma ponte, em Berna. Raimund Gregorius, professor de latim e grego, evita que ela o faça. A mulher é portuguesa, mas é a sonoridade da pronúncia "portuguesa" que o vai marcar e no mesmo dia, ao sair do liceu, vai a uma livraria e descobre um livro de um autor português, Amadeu Inácio de Almeida Prado, intitulado "Um Ourives das Palavras".
O livreiro traduz-lhe uma passagem e ele fica fascinado. Decide aprender português e, uma noite, sem conseguir explicar porquê, entra num comboio para Lisboa para descobrir a real história de Amadeu Almeida Prado, médico, que morreu 30 anos antes, em 1975, pouco depois da Revolução dos Cravos, "numa descoberta do outro que acaba por ser uma descoberta de si próprio".
Lisboa torna-se para Raimund Gregorius o local de todas as revelações: dos mistérios da vida humana, da coragem, do amor e da morte.
E mais não digo...
NÃO
não tenho medo de morrer aqui
nem receio os cães velocíssimos de guarda
às azenhas não reveladas de teu corpo
medo da memória
sim ... receio que as cabeças tristes dos galgos
aqueçam na fulguração breve dos relâmpagos
e corram repentinamente para fora do papel fotográfico
destruindo estes preciosos trabalhos do olhar
Al Berto
não tenho medo de morrer aqui
nem receio os cães velocíssimos de guarda
às azenhas não reveladas de teu corpo
medo da memória
sim ... receio que as cabeças tristes dos galgos
aqueçam na fulguração breve dos relâmpagos
e corram repentinamente para fora do papel fotográfico
destruindo estes preciosos trabalhos do olhar
Al Berto
Impressão Digital
Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!
António Gedeão
Friday, April 18, 2008
As palavras
Num espaço dedicado à língua portuguesa, um poema de Eugénio de Andrade
As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
ABRAÇO
É na insónia das noites como esta
- Ah, tenebrosas noites de punhais! -
Quando o sono-dos-justos-e-que-tais
É luarenta, silenciosa sesta,
Que eu rasgo a escuridade da floresta,
Virgem floresta de árvores irreais,
E mergulho, me afundo, desço mais
No para-lá da noite que me resta.
Cavalgo a escuridão-despenhadeiro.
É nessas noites, como esta, assim...
Que abraço numa estrela o mundo inteiro,
Que sinto o mundo palpitar em mim.VS
BEM-VINDOS
Por sugestão de alguns amigos ciprestianos (relativos ao site Acerca dos Ciprestes) acabei por criar este espaço... a fim de que uma comunidade que se formou, a propósito do CNLP2007, não só não se disperse e mas tenha um espaço seu, e que fomente a partilha de opiniões...
um abreijo (como já sói dizer-se)
um abreijo (como já sói dizer-se)
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